Faz um bom tempo que não pratico Yoga com a visão que me ensinaram em diversos cursos. A base de todo estudo era uma única escritura (e continua sendo ela para a maioria dos praticantes) que traz uma visão ascética e dualista da existência,

Ou seja, o estado de Yoga (união da alma individual com a alma universal)) só acontece no isolamento e no afastamento (ascetismo) da realidade (Maya) para alcançar um estado de Pura Consciência (Brahman), e que temos que “purificar” o corpo para poder acessar o tal estado de Yoga. Isto já dá uma sensação de algo deu errado e precisamos retornar a algum lugar que não faz parte da vida que levamos.

Imaginem o quanto é difícil essa via de autoconhecimento, porque ao negar a existência, nego minha corporeidade, minha própria participação na vida.

Esta visão não é compartilhada por adeptos do Tantra não dualista. Para eles tudo é Shakti (Consciência Pura), e o conflito não está no mundo, mas na forma como nossa mente interpreta a realidade. Por isso não temos que nos afastar da vida. Temos que celebrar a existência e honrar a presença da Shakti em todos os momentos. E foi aí que revi minha visão a respeito do Yoga que quero para minha vida.

Eu lembro que falava para os alunos que para ser um pianista de alto nível era necessário tempo, dedicação e foco, e o mesmo acontece para quem quer se dedicar a ser um yogi. Na época nem se falava a palavra yogini. Era o ensinamento que eu estava acessando naquele início dos estudos sobre Yoga. Quando resolvi entender um pouco mais sobre isso, descobri que certos ensinamentos fazem parte de uma determinada época, para determinado povo, em um momento histórico, político, social específicos.

Com o estudo do Tantra, compreendi que qualquer esforço é inútil porque não há nada a ser alcançado e por isso a iluminação é mais uma noção equivocada de que precisamos ter uma determinada prática, seguir determinada linhagem ou mestre, alcançar determinados estágios, sejam físicos (atingir séries de asanas, níveis avançados de prática) ou mentais (quantidades de horas de meditação). Não estou desqualificando estas práticas, apenas informando que existem outras possibilidades. No Tantra compreende-se que toda vida é um caminho de luz e sombra e que a dualidade não é oposição, apenas é outro estado que vivenciamos, se estamos presentes. É uma vida de reconhecimento de sua própria essência.

Eu vejo tudo isso como uma necessidade do nosso ego em medir um conhecimento e validar ele para outras pessoas, sejam elas alunos, seguidores. E aí alguns podem pensar: ela está escrevendo isso porque não ‘atingiu’ nenhum nível de percepção diferenciado, não se “iluminou” dentro dos parâmetros estabelecidos por “mestres credenciados”. Pode até ser, mas isso é uma percepção individual e não tem medidor de estados de iluminação. E outra coisa: quem realmente é não precisa angariar seguidores e se colocar acima das pobres almas mortais sedentos de alguém que lhe diga o que fazer. Isso sim, é lhe tirar do seu caminho.

Com isso não estou afirmando que não precisamos de orientação. Precisamos sim, mas o tempo dos “mestres” chegou ao fim, e a maestria está em se tornar sua própria mestra ou mestre. O fim dos mestres, geralmente homens, é um fato ( já que você não vai encontrar escrituras feitas por mulheres e nem linhagens femininas com autoridade reconhecida pela tradição). Primeiro, porque não tem mestre para todo mundo e isso de mestres com multidões é mais uma invenção no Yoga moderno. Segundo, que encontrar um genuíno é quase como encontrar uma agulha no palheiro. E aí que entra o auto estudo, o auto conhecimento, a auto observação.

Estar presente é a única maneira de acessar estes estados ditos “iluminados” e dizem que são diversos, porque a consciência é infinita, morando temporariamente em uma mente limitada. Sinceramente, quem está em si não precisa provar nada! Ainda podemos escolher onde nossa mente vagueia durante nossa prática meditativa ou ao longo do dia: numa visão de separação, renúncia, negação das experiências corporais, ou numa visão de integração, de sensações e reconhecimento da existência como Shakti – Pura Consciência.

Faça sua escolha e recebe os frutos dela!