Aqui é Tereza escrevendo na primeira pessoa, porque ela tem síndrome de Fernando Pessoa. Ela, como toda mulher, tem várias facetas e que ela pretende explorar como um tipo de fetiche (objeto a que se atribui poder sobrenatural ou mágico e se presta culto). Escrever lhe dá muito prazer e ela gosta de compartilhar suas sensações. Sua visão tântrica do mundo lhe dá a perspectiva de que tudo deve ser experimentado com todos os sentidos.
Os episódios que serão publicados falam sobre a arte de ser uma mulher doméstica, mas não domesticada. Uma mulher mística, mas não mistificadora. São crônicas vindas direto do forno onde asso minhas próprias receitas de fazer com as palavras pratos maravilhosos, mas pouco digeríveis para quem ainda quer comer comida fácil e com sabor artificial. Por isso gosto muito dos temperos, assim modifico o sabor de uma frase mal colocada, quando quero expressar uma verdade, a minha verdade é claro.
Alivio as impressões que deixo com meu dizer através de ervas que refrescam a ardência das palavras quentes que denotem raiva, indignação. Uso ervas doces quando estou muito amarga e seca de sentimentos. Salpico ervas picantes quando as saudades entopem meu nariz com choros aleatórios, para me sentir um pouco vítima de minhas próprias escolhas. E assim vou temperando minha existência com a sabedoria que vem da alma das plantas.
Também lavo minha roupa suja e penduro ao vento para espalhar minhas incoerências mau cheirosas. E escrevo sobre isto também, porque todos os dias me sujo com pensamentos sabotadores e embolorados que eu mesma estendo no varal da minha mente. Às vezes vem um vento forte do autodesprezo e do medo e seca tudo rápido, mas a sujeira continua lá.
Muitas vezes a chuva e a umidade que persistem muito tempo sob forma de tristeza, melancolia, angústia, mágoa, faz com que crie fungos mentais e difíceis de serem removidos. Pode passar água sanitária e botar dias no sol que não vai adiantar. Impregnou na mente. O único alvejante possível é a auto-observação que clareia sem manchar, com impressões de uso descabido, as mentes encardidas.
De roupa limpa eu entendo, mas de roupa suja muito mais, porque todo dia eu lavo minhas calcinhas e nesse momento aproveito para limpar minhas candidíases mentais, meus mucos emocionais.
Lavo também o chão onde minhas ideias passeiam e que muitas vezes fica impregnado de gordura acumulada pela ausência de originalidade e que acumulo em meu corpo, entupindo as minhas artérias, impedindo o fluir criativo e meu caminhar leve pela casa. Nestes dias me sinto pesada e escorrego nos deslizes das minhas escolhas equivocadas.
Todos os dias têm coisas para fazer, na minha vida de domística.
Adoro tapetes e coloco eles em toda parte. No entanto, eles acumulam muito pó e sempre estou sacudindo para ver ser jogo para longe a poeira das minhas lamentações e dos meus pensamentos sombrios e empoeirados pela repetição de padrões. Coloco os tapetes novamente nos lugares e acredito que tudo está limpo, temporariamente. Faço o mesmo com meu tapete onde pratico Yoga, meu portal para o aprendizado eterno sobre mim mesma. Termino alguma prática e saio dele acreditando que bati toda o pó impregnado nos cantos barulhentos e imperceptíveis de uma mente que se crê silenciosa.
Mas muitas vezes esses muitos tapetes que adoro espalhar por toda casa, acabam me fazendo tropeçar e cair sobre as sujeiras por baixo deles. E aí, um belo dia o sol amanhece em minha percepção. Sinto tudo em mim, renovar e lavo todos os tapetes, colocando-os novamente no chão para aprender sobre o que escondo de mim mesma.
Todo dia tem coisas para não se fazerem na minha vida de domística.
E o não fazer é a parte mais difícil, porque até ficar parada é um desafio enorme para uma domísitca escrivinhante. Por isso concluo aqui esta parte do meu escrever. E aprendo mais uma vez que o fluxo quando está livre, nunca faltará inspiração.